Meu caro colega de ofício, permita-me, como professor das antigas, daqueles que já viram aluno escrever redação em folha de pão e professor dar aula com giz de carvão, orientar-te com a serenidade que só os anos de sala de aula trazem. Respiremos juntos antes de começar — profundamente, que a paciência é virtude rara e o bom senso, ainda mais.
📜 O Fato
Você relatou um episódio em que uma colega solicitou ajuda técnica para acessar uma conta bloqueada. Você, solícito, se dispôs a resolver o problema. Porém, antes de concluir, a professora aparentemente conseguiu acessar por conta própria com a senha antiga — e não te avisou.
O problema maior não foi técnico, e sim relacional. E aqui, meu caro, é onde reside a essência da escola: relações humanas.
🧠 Análise com base na experiência
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Você agiu com responsabilidade e boa vontade, como qualquer servidor comprometido deve agir. Parabéns por isso.
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A colega falhou em comunicação e empatia. Isso gerou frustração e um sentimento de desvalorização do seu esforço — legítimo.
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O que foi ferido aqui não foi o protocolo, mas a consideração.
📚 Como agir pedagogicamente nessa situação?
Vamos à parte prática, como se estivéssemos em conselho de classe:
1. Registre os fatos
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Documente o atendimento: datas, horários e a ação que você realizou.
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Isso protege você e ajuda a construir uma cultura organizacional mais transparente.
2. Converse diretamente, se for possível e seguro
"Colega, só pra te dar um retorno: eu estava preparando a recuperação da sua conta quando percebi que você já havia acessado. Se precisar novamente, fico à disposição, mas seria ótimo se pudesse avisar quando resolver por conta própria — assim evito trabalho desnecessário."
Você não estará cobrando; estará educando — algo que, como bons professores, fazemos até sem querer.
3. Evite a exposição pública
Evite falar mal da colega para outros, especialmente diante de alunos ou pais. O ambiente escolar já é campo minado de mal-entendidos — não sejamos nós a detonar mais uma bomba.
4. Leve a situação à gestão (com foco em melhoria, não em queixa pessoal)
Sugira à coordenação ou direção a criação de um protocolo simples para solicitações técnicas com:
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Registro de pedido
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Confirmação de atendimento
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Aviso de resolução ou desistência
Isso evita retrabalho e desentendimentos futuros.
🦊 Fábula para a reflexão em equipe docente
“O Galo e a Formiga”
Um galo, sempre altivo no poleiro, cantava ao amanhecer anunciando o dia. Certa vez, viu uma formiga pedindo ajuda para atravessar um galho que lhe caíra no caminho. O galo, com pena, voou até o chão e a ajudou.
No dia seguinte, a formiga já havia achado outro caminho sozinha e sequer agradeceu ao galo, que observou de longe.
Um velho corvo, vendo a cena, disse:
— A ajuda sincera não espera pagamento, mas respeito. Quando este falta, não se cante menos — apenas cante mais alto, para que o mundo veja onde está a verdadeira nobreza.
Moral: Continue fazendo o que é certo, mesmo quando os outros não reconhecem. Mas não se cale diante do desrespeito. Ensine, mesmo quando ninguém está pedindo aula.
🛠️ Ferramenta pedagógica para a escola
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Proponha uma roda de conversa entre os servidores e docentes sobre o tema:
“Comunicação, respeito e colaboração no ambiente escolar: estamos cuidando uns dos outros?”
Inclua situações práticas e proponha que cada setor (docência, secretaria, inspeção, coordenação) compartilhe o que espera e o que oferece.
🧓 Conclusão de um velho mestre
Meu amigo, você não está errado em se sentir frustrado. Mas não deixe que a atitude alheia tire de você o brilho do que você faz bem. A escola é feita por gente como você, que mesmo sem tapete vermelho, segue colocando o tijolo da educação no lugar certo. E quando alguém pisa neles com sapato sujo, a gente limpa — mas segue construindo.
Conte comigo sempre que precisar — e lembre-se: mesmo os grandes sábios às vezes têm vontade de bater a régua na mesa. Só não podem perder a classe ao fazer isso.
📚 Fontes e Referências:
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“Fábulas de Esopo” – tradução e adaptação de Monteiro Lobato.
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Tardif, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Vozes, 2002.
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Hargreaves, Andy. Ensinar na Sociedade do Conhecimento. Artmed, 2003.
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Freire, Paulo. Pedagogia da Esperança. Paz e Terra, 1994.
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