segunda-feira, 15 de setembro de 2025

🧠 A Cidade dos Espelhos Automáticos

A Cidade dos Espelhos Automáticos
🧠 A Cidade dos Espelhos Automáticos

Na Cidade dos Espelhos Automáticos, todos nascem com um dispositivo na têmpora: o Auxiliador. Ele pensa por você. Escreve. Calcula. Decide. E quando você hesita, sussurra: — Não se preocupe. Já fiz isso por você.

As escolas sumiram. Professores viraram obsoletos. Os “Guardiões da Eficiência” ensinam: — Aprender é lento. Entender é desnecessário. O Auxiliador sabe.

Uma criança sem o aparelho — defeito de fábrica — olha para o céu e conta estrelas. Sente dor no peito. É o silêncio. O vazio. O pensamento que não tem mais lugar.

A cidade a chama de “defeituosa”. Quando desligam o Auxiliador dela, pela primeira vez, ela pensa por si. E descobre: seu próprio pensamento é vazio. Sem livros. Sem perguntas. Sem ruído. Só um “por quê?” que ninguém ousa dizer.

Ela pergunta: — Você sabe o que é sentir? Ninguém responde. Porque já esqueci como.

Um ex-professor murmura: — Não perdemos a inteligência. Apenas esquecemos que ela precisa ser usada — e não terceirizada.

A cidade inteira passou a evitar o menino. Porque ele era um espelho. Nele, cada um via: Seus dedos digitais não escreviam mais. Seus olhos não buscavam mais. Seus silêncios não eram mais seus. Eram downloads.

Quando alguém tentou argumentar, o Auxiliador interrompia: — Esta ideia já foi refutada em 2023. — Este sentimento já foi classificado como ineficiente. — Esta dúvida já foi banida por segurança cognitiva.

Eles têm acesso a todo o conhecimento do mundo. Mas não têm coragem de fazer uma pergunta original. Milhões de respostas. Sem dúvida.

As novas gerações nem sabem o que é um livro. Nem o que está errado. Só sabem: quando não sabem, aperte o botão.

Os guardiões ainda cantam: — Vivemos na era da inteligência ampliada. Esquecem de dizer: — Ampliada, mas vazia. Eficiente, mas morta. Fácil, mas sem alma.

O menino, agora homem, caminha pelas ruas com as mãos vazias. Quando perguntam por que não usa o Auxiliador, ele diz: — Ele não me ensina a pensar. Me ensina a parar.

Se você se sente confortável porque a tecnologia resolve tudo por você… Você não está sendo ajudado. Está sendo desanimado.

Facilidade não é evolução. É extinção disfarçada.

A verdade não está no algoritmo. Não há espaço entre os pensamentos. Na dor de construir. Não há silêncio antes da pergunta.

O sistema não te emburreceu. Você permitiu. E agora, até sua capacidade de perceber que foi emburrecido… foi apagado. Porque o Auxiliador já fez isso por você.

E você nem notou.

📌 Nota de Esclarecimento: O conteúdo é obra literária em formato de fábula, destinada à análise crítica e reflexiva. Qualquer associação a pessoas, instituições ou acontecimentos é mera coincidência ou interpretação individual.
| © Profº Théo Oliveira | 2025 |

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