📜 Fábula — O Enxame e o Templo
Na beira de uma aldeia erguia-se um grande templo, lugar onde as crianças iam aprender a decifrar os sinais do mundo. Um dia, um enxame de abelhas — chamado Europa — instalou-se bem acima da arena onde os pequenos treinavam correr, rir e jogar.
Os guardiões do templo viram o perigo, mas, em vez de agir, passaram uma fita vermelha em torno da ameaça e declararam: — “Está resolvido. Basta não olhar muito para cima.”
As crianças, inocentes, brincavam debaixo do zumbido. Algumas até imitavam o som das abelhas, rindo do perigo que não compreendiam.
Entre elas, uma menina puxou o vestido da mãe e perguntou em voz baixa: — “Mamãe, de quem ele está falando? É de mim? Eu ainda não sei ler, mamãe?”
A mãe, tentando acalmar, respondeu: — “Calma, filhinha! Um dia você vai pra escola e aprenderá ler nas entrelinhas e entenderá o que está escrito na mensagem!”
Mas a verdade cruel era que a escola — o templo que prometia ensinar a ler o mundo — não sabia interpretar sequer as letras garrafais escritas no ar: PERIGO IMINENTE.
O Templo simboliza a instituição que deveria proteger, mas ensina a ignorar.
O Guardião adormecido é a autoridade que confunde procedimento com ação.
As Crianças são o futuro colocado em risco como oferenda ao conforto da inércia.
As Abelhas são a realidade, implacável, que não negocia com ilusões.
O Diálogo mãe-filha é o espelho moral: a inocência percebe mais que a autoridade.
Quem fita o enxame e decide não agir não é apenas negligente: é cúmplice do desastre anunciado. A fita vermelha não protege ninguém; apenas revela a consciência da culpa. E toda criança que aprende a correr sob perigo aprende, sem perceber, a aceitar o absurdo como rotina.
O inocente que lê esta fábula sorri diante da metáfora. O culpado, porém, remexe-se na cadeira, ouvindo dentro de si o zumbido das abelhas que fingiu não ouvir.
O Enxame Europa não é apenas um risco físico — é um espelho. Ele mostra à aldeia sua covardia, sua preguiça mental e sua traição ao dever. O desastre ainda não aconteceu. Mas, se acontecer, cada zumbido registrado será usado como prova. E o narrador — o Despertador — não permitirá que o silêncio se torne lápide.
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