📖 Fábula: O Espelho, a Lembrancinha e a Alcateia
🕊️Na aldeia dos Guardiões da Palavra havia um costume estranho: todos diziam prezar pela Verdade, mas tremiam de medo quando ela era escrita no papel.
👩👦Um dia, uma Mãe Andorinha apareceu aflita. Seu filhote estava doente, com asas enfraquecidas, e ela trouxe ao Conselho um pergaminho do Curandeiro. Pediu apenas duas coisas: que o filhote não ficasse esquecido e que recebesse a pequena lembrancinha que ajudara a confeccionar com suas economias.
🪞O Guardião do Espelho anotou fielmente o pedido — nada além do que se ouviu. Porém, ao registrar, despertou a ira da Alcateia do Silêncio.
🦡Nos corredores, as Hienas da Ironia riram do pedido da Andorinha. Quando o registro apareceu, o riso virou medo. A Loba do Costume rosnou: “Aqui, papel é veneno! Quem escreve nos ameaça!”
✍️Ela tentou reescrever a cena: “Não zombávamos da Andorinha, zombávamos da situação!” Mas o Espelho refletia sem adornos, e isso os apavorava.
🪶As Hienas repetiam palavras de baixo calão, aos berros e às gargalhadas: “Esses bichos emplumados, frutos da noite!” (duas vezes).
🐺A Loba ainda completou: “Quando o bicho se sente ameaçado, ele ataca. Se precisar, puxo sua orelha!”
🗣️E transmitiu o recado do Coiote da Intimidação: “Antes que ele mande, eu o mando embora.”
📜Numa fala que ecoou como um rugido de má fé, uma loba mais arisca chegou a dizer, com voz de trovoada: “— Ótima ideia — vamos buscar a cinta do museu e aplicar a disciplina da Idade das Trevas!”
🔁Quando alguém, mais tarde, relatou que a Andorinha se sentira ridicularizada e acusou o Guardião do Espelho de “tirar sarro da Andorinha”, a Alcateia tratou de inverter os papéis: o Espelho — que apenas registrou — foi tachado de agressor; os que debocharam foram apresentados como ofendidos.
🩹O Espelho não criou a ferida, apenas mostrou a chaga. Quem tem medo do reflexo é porque já carrega a sujeira no pelo.
🎁A lembrancinha da Andorinha virou prova moral contra a Alcateia, que preferia esconder o deboche a corrigir o erro.
🌲E assim, nas entrelinhas da floresta, todos perceberam que quando os uivos do cotidiano se misturam com as garras da intimidação, nascem monstros maiores que simples arrufos: ecos venenosos que ferem a honra, rugidos que soam como ameaças, ordens que lembram violência, correntes que impedem a escrita e caçadas coletivas que transformam a vida da aldeia em sombra. Quem observa a cena entende: na fábula, isso se chama mal-estar; no mundo dos homens, tem outro nome.
✏️Nota de Esclarecimento: O conteúdo é obra literária em formato de fábula, destinada à análise crítica e reflexiva. Qualquer associação a pessoas, instituições ou acontecimentos é mera coincidência ou interpretação individual.
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