🦊 Fábula — “O Espelho do Bosque e os Leões de Papel”
🌳Num bosque antigo, cercado por muros cobertos de musgo e cipós, havia uma Casa do Saber, um refúgio onde as criaturas se reuniam para ensinar, aprender e fingir que tudo era calma sob o sol da rotina.
🦉Lá viviam guardiões de ofícios: corujas que anotavam o vento, lebres que organizavam filas, e raposas que observavam o que os outros fingiam não ver.
🦊Entre eles, morava um Guardião do Saber, uma raposa de pelagem já grisalha e chapéu gasto pelo tempo. Era conhecido por cuidar das coisas miúdas — um bilhete perdido, uma poção esquecida, ou uma história que pedia escuta.
🕊️Certo dia, uma pomba-mãe chegou aflita, trazendo uma lembrança envolta em folhas secas e um pedido simples: que as mensagens do bosque chegassem até o filhote doente, isolado na toca por causa de um mal passageiro.
🤲Era um pedido de afeto — não de revolta. Mas em bosques onde as palavras têm eco, até a ternura pode ferir ouvidos endurecidos.
😔Alguns animais riram, outros fingiram não ouvir. O riso tinha o som oco de quem já esqueceu o porquê de existir em comunidade.
📜A raposa então escreveu um espelho em forma de papel, lembrando aos demais que gentileza também é parte do dever de quem serve ao coletivo. O papel foi entregue ao tronco onde os registros repousavam — aquele velho tronco que engole memórias e as transforma em poeira burocrática.
🦁E então veio o curioso. Os Leões de Papel, que rugiam apenas quando o vento soprava a seu favor, sentiram-se feridos pelo reflexo. Não por ele mentir — mas por mostrar demais.
⚡O chefe dos leões trovejou: “Quem ousa balançar o reino com espelhos?!” Outro, mais antigo e preguiçoso, sugeriu mover a raposa de toca, como quem muda o problema de lugar pra fingir que resolveu o espinho no pé do trono.
🌫️O bosque ficou denso, o ar pesava. Alguns esquilos diziam que o espelho era exagero. Outros, que a raposa queria “derrubar o ninho”. Mas quanto mais arranhavam o espelho, mais clara ficava a imagem: o reflexo não mentia — só devolvia o que via.
🕊️As andorinhas cochichavam: “É perigoso falar disso em público”. Os jabutis fingiam dormir. E o Guardião do Saber, com o faro sereno dos que confiam na verdade, guardou duas cópias do espelho: uma gravada no eco do tempo, outra guardada na memória de quem testemunhou o rugido injusto.
🌞No dia seguinte, o espelho reapareceu — discreto, silencioso, apenas palavra. E toda vez que um leão tentava negar o reflexo, a negação fazia o contorno da culpa brilhar mais forte — como se o sol revelasse o pó nas garras.
🌸As crias do bosque, inocentes, levaram flores ao espelho. Elas murcharam rápido, mas a lição ficou: “Registrar não é trair — é lembrar que cuidar também é um ato de coragem. E que, quando a coragem falta, o rugido do poder tenta calar o som da verdade.”
🌳No fim, o espelho ficou guardado entre as raízes do carvalho mais antigo — não para punir, mas para lembrar. E os Leões de Papel? Continuaram rugindo contra os reflexos, sem perceber que quanto mais o faziam, mais visível se tornava a sombra de suas próprias presas.
✨Alguns se enrijeceram; outros, em silêncio, aprenderam que quando o bosque segura o espelho junto, o primeiro rosto que se salva é o das crianças do amanhã.
📚FIM.
📜 Moral da Fábula
🔍Quem teme o espelho da verdade revela mais do que pretende esconder. E no bosque da convivência, o reflexo mais nobre é aquele que ensina — não o que domina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário