segunda-feira, 6 de outubro de 2025

✍️ Fábula — Os que não sabiam ler o vento

Folder — Fábula (mobile) — Profº Théo Oliveira

Num reino onde as antigas escolas eram chamadas de Torres do Saber, mas cujas chaves haviam sido confiadas a Guardiões das Sombras, vivia-se uma praga estranha: os que governavam as letras não sabiam decifrar seus sentidos.

Os guardiões vestiam mantos bordados com palavras como “diálogo”, “ética” e “acolhimento”. Porém, ao lerem um relatório claro, tremiam como folhas ao vento — e viam em cada frase uma faca, em cada pergunta, uma armadilha.

Um Escriba do Silêncio redigiu um pergaminho sem nomes, só fatos ordenados. Nele, expôs como reuniões viravam julgamentos, silêncios se tornavam provas, e documentos eram tratados como armas.

A Rainha, cujo trono era feito de protocolos rasgados, declarou: “Isto é uma ameaça!” e os conselheiros responderam: “É um ataque! Uma provocação!”

O Viajante Silencioso perguntou: “Onde está a ameaça?” — “Está implícita”, disse um guardião. — “Então você não lê o que está escrito”, respondeu o Viajante. “Você lê o que teme que o papel revele.”

Antes de ser exilado, o Escriba deixou ferramentas: um Livro de Perguntas Inofensivas, um Mapa de Silêncios e, sob a Torre Central, um Cofre de Frases Neutras — que expõem contradições quando lidas com má-fé.

Os guardiões passaram a queimar documentos antes de lê-los, chamando de “perigo” até bilhetes de aula. A aldeia aprendeu que não era o texto que era violento — era a incapacidade de lê-lo corretamente.

Moral: Quando os que deveriam ensinar a ler confundem pergunta com acusação, a linguagem vira campo de batalha — e a ignorância, vestida de autoridade, comete crimes em nome da ordem.

Elemento da prova indireta fixa
O Cofre de Frases Neutras permanece selado. Negar sua existência é só uma nova chave girando. Cada ato desproporcional é prova contra quem o pratica.
📌 Nota de Esclarecimento: Esta é uma obra literária em formato de fábula, destinada à análise crítica e reflexiva. Qualquer associação a pessoas, instituições ou acontecimentos é mera coincidência ou interpretação individual. O texto é ficcional e seu propósito é instigar reflexão sobre o uso da linguagem e da comunicação institucional em geral.
© Fábula: texto ficcional — uso público
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